Wednesday, October 13, 2010

Para onde nos leva o caminho… já que parecemos não caminhar?

Decorre, durante esta semana, no Instituto para a Investigação Interdisciplinar da Universidade de Lisboa, um encontro internacional: o Educational Interfaces between Mathematics and Industry (EIMI-study). Tal como o título do evento sugere trata-se de analisar interacções entre a Academia e a Industria. (Os suficientemente curiosos poderão ter uma ideia dos assuntos discutidos lendo as respectivas actas.)

Para os poucos portugueses que assistem ao que lá se tem discutido e apresentado, a visão que nos é proporcionada sobre o nosso papel no Mundo é pouco menos que apocalíptica. Não se trata de que uma força exterior extraordinária nos tenha dado atenção ao ponto de nos querer suprimir enquanto nação. Trata-se do facto que outros países como a China os Estados Unidos, o Canadá ou a Alemanha (para citar apenas alguns), preocupados em resolver os seus próprios problemas, descobriram nesta forma de interacção envolvendo a Academia e a Indústria, uma forma de se tornarem sociedades significativamente mais eficientes e mais produtivas.

Relativamente a este movimento Portugal está, como é natural, inexoravelmente atrasado. Digo «inexoravelmente» porque está em causa aqui, como esteve fora daqui, a implantação de uma nova cultura. Na generalidade dos casos isso foi feito empenhando não apenas recursos financeiros, mas também criando redes de interacção cuja estrutura é em geral complexa. Finalmente, e como não poderia deixar de ser, o processo envolve ainda uma componente educativa.

A experiência entretanto adquirida revela que esta «nova cultura» constitui uma «força motriz» capaz de elevar para patamares superiores a competitividade económica e até a sua eficiência enquanto sociedades, dos respectivos países.

Entre nós, não será possível operar essa transformação a curto prazo. Por um lado, o processo nem sequer foi iniciado, por outro há que estabelecer uma estrutura complexa. Finalmente, o processo em si mesmo, parece ser contraditório com a atitude política doméstica: só para dar um exemplo, exige-se uma formação sólida que, evidentemente, só se pode obter num sistema educativo exigente algo que por cá há muito deixou de existir em detrimento de um ritual burocrático que culmina numa ilusão estatística.

Teremos ainda que esperar por alguém que nos governe, não de «fato e fax», mas no peno respeito pelo conhecimento e pela racionalidade (não confundir com retórica). Mais geralmente precisamos ainda de uma classe política que se distinga por outras razões que não a insolência e a cretinice.

Nunca como actualmente António Aleixo esteve certo:

Há tanto burro mandando em homens com inteligência, que às vezes fico pensando se a burrice será ciência...

Aleixo, pertence a um tempo que não se oferece à nostalgia. Mas, esse era também um tempo em que, ao contrário de hoje, a «instrução» não roubava espaço à inteligência. Estaremos realmente melhores, hoje? Do ponto de vista dos electrodomésticos (o ponto de vista cultivado pelos actuais governantes), sim, sem dúvida! Mas no essencial, parece ser cada vez mais difícil termos noção do nosso atraso … pela simples razão de que estamos cada vez mais atrasados!

 

Monday, October 11, 2010

O destino da Universidade…

O Expresso de 09/08/2010 contém uma entrevista a António Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa. Motivada pela comemoração do centenário daquela Universidade, a entrevista acaba por revelar uma visão do futuro da Universidade.

Um trecho da entrevista, acerca da possibilidade de «democratizar e formar elites ao mesmo tempo», revela o apocalipse. . De acordo com António Nóvoa, todos compreendemos essa possibilidade «se pensarmos que não é possível ter elites no desporto se não houver desporto de massas.»

Recuso acreditar que o Reitor da Universidade de Lisboa não consiga distinguir um argumento válido de uma falácia: é que, como todos facilmente compreendemos não vemos os centros de alto rendimento desportivo populados de atletas de fim-de-semana.

Por outro lado, já vai sendo o tempo de discutir assuntos sérios com uma certa higiene. Essa mesma higiene exige uma purga de argumentos do tipo «no estrangeiro já se faz assim ou assado …». A experiência universal não tem preço, mas teremos que a enquadrar na procura das nossas próprias soluções para os nossos próprios problemas. Sem isso estamos condenados a cair sistematicamente nas armadilhas que a falta de originalidade nos tem reservado…

Recomeço

Depois de um longo tempo de ausência o blog «pseudo-esfera» está de volta.

Veremos como será…

Saturday, November 04, 2006

Irracionalidade[0001]

Diz José Sócrates: "não fomos eleitos para que tudo fique como estava".
Bom! Não foram eleitos para que tudo fique pior que o que estava.

Esta forma apriorística de associar bondade e mérito à mudança enquanto mudança é claramente irracional.

Educação[0002]

Na origem do novo estatuto da carreira docente está uma confusão fundamental que resulta de uma notória incapacidade de distinguir o acessório do essencial.

Os professores aparecem divididos em duas categorias—os titulares e os outros. A condição de titular é melhor remunerada porque, diz a Ministra, está associada ao desempenho de funções de maior responsabilidade. A tutela refere-se a funções de organização e administração, que são burocráticas na sua essência. Deste modo, discriminam-se positivamente os professores que desempenham funções, sem dúvida necessárias, mas que, ao mesmo tempo, representam aquilo em que a Escola é basicamente igual às outras estruturas e, mais importante, funções intrinsecamente acessórias e, por isso, mais afastados da essência do processo educativo.

A profissão docente apresenta uma peculiaridade que a Ministra não compreende: quando se acede à profissão toma-se de imediato nas mãos a maior de todas as responsabilidades—a de ensinar. Algo infinitamente mais importante que o malabarismo burocrático que a Ministra quer promover.

Sunday, October 29, 2006

Educação[0001]

Acerca da impossibilidade de discutir a Educação em Portugal

Têm-se multiplicado os debates sobre o estado da Educação em Portugal. Como qualquer discussão de fundo neste “país”, também esta tem o seu quê de quântico. De resto, as próprias políticas educativas exibem um comportamento semelhante—oscilação entre posições extremas sem nunca passar por posições intermédias.
O pior, porém, é que esta discussão se antecipa ao seu próprio tempo o que a torna impossível. Claro que podemos falar, uns e outros, sobre este assunto, mas não se pode (e, sobretudo, não se deve) confundir uma soma de vozes com uma verdadeira discussão.
Ao falar da Escola cada um tem em vista, não uma noção bem estabelecida, partilhada pelos intervenientes mas, ao contrário, uma que se subordina a expectativas pessoais. Se uns têm em mente a formação ampla (já houve quem a ambicionasse integral) do indivíduo outros já esperam que a escola torne esse mesmo indivíduo capaz de resolver problemas concretos no âmbito de disciplinas concretas. Numa visão absolutamente acabrunhadora do papel da Educação há até quem espere que nas escolas se produzam componentes úteis à economia.
Sem uma definição clara (pelo menos nos seus aspectos mais essenciais) do objecto de discussão, aquilo a que assistimos não passa de um conjunto de soluções à procura de um problema.

Saturday, October 28, 2006

Lógica Matemática[0001]





16 de Novembro de 2006 — 17:30
Centenário do nascimento de Kurt Gödel

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
EDIFÍCIO C6
SALA 6.1.36


No próximo dia 16 de Novembro decorrerá na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa uma cerimónia comemorativa do centésimo aniversário do nascimento de Kurt Gödel.
Eleito uma das personalidades do Séc. XX pela revista Time, a poderosa mente de Gödel foi responsável por algumas das realizações mais espantosas da lógica matemática, naquele século. O seus famosos teoremas da incompletude afectaram profundamente todas as expectativas criadas em torno dos fundamentos da matemática, acabando por extravasar para além do domínio matemático, influenciando a filosofia e a cultura de uma maneira geral.